encontros.

     A noite fria já assombrava, mas era um momento de reflexão, sabe-se lá por que. Será que o futuro me reserva alguma surpresa? Eu estava na parada de ônibus, com um capuz marginal, às onze da noite, Avenida São Paulo. Sentei-me e fiquei a observar tudo ao meu redor, onde uma infinidade de artifícios surgira a me entrelaçar. As pedras, as folhas planando ao vento, um casal discutindo. Foi meu circo naquele instante de solidão. De repente uma vontade de urinar, e àquela hora o pudor já estava a dormir. Quase meia noite e minha carruagem moderna parecia nunca chegar. Eu estava ao relento, abandonado, exclusivamente só. Iniciei minha peregrinação, pelas vielas da cidade. Todo vagante que se preze, tem sua apegação ao divino, à santidade, mas sempre na hora que a corda aperta o pescoço, o santo é mais forte. Estava eu, pedindo a Deus minha salvação. Ratos, baratas, escorpiões, vultos, intuições, receios, um pouco de pânico e eu no meio. A vida noturna impactara-me de uma forma avassaladora e ao mesmo tempo, exótica. As luzes da noite, o inabitado, a astúcia. Repentinamente, um velho amigo: a morte. Ah, venha cá, a senhora está cometendo um ledo engano, não sou eu o seu escolhido. Sempre sábia, a morte tem suas datas. Mesmo com tudo isso passando pela minha cabeça e uma leve retrospectiva de quinze anos de vida, eu fui seguindo até a Avenida Recife, para tentar achar uma saída e enfim, um taxista apareceu, num bar. Boa noite, senhor! Esta trabalhando ainda? Pode fazer uma corrida? Não, estou bêbado. Vá até o posto de gasolina e achará o que procura. Fui-me, mas como citei, estava às aparências de um delinqüente e podia causar um escarcéu, mas tentei estabelecer um diálogo e por fim consegui, com o pouco dinheiro que me restou, a bendita corrida. Desci na frente do condomínio e de lá, corri. Ainda de relance, olhei para traz e vi a amiga morte acenando e meio que dizendo, até a próxima...     

Comentários

  1. Caro Ulysses, gostei do texto. O seu blog é um misto de crônicas do cotidiano e literatura. Para a sua caminha literária, sugiro que você leia Dalton Trivissan e Lígia Fagundes Telles. Acho que você vai gostar.

    Um abraço, Jefferson Souza

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