felicidade, afinal.

-- Tarde, sô! Como vai ocê?
-- Boa tarde, meu amigo e você como vai?
-- Amigo, eu vô bem, sabe sô.
-- Bom saber, amigo. Como vai o trabalho? Como vai a vida?
-- Cumpadi vai mal, visse. Chegaro umas tal de máquina por aí, acabô que dispensaro eu e uns parcero véi meu. Fai tempo que eu puxo a inxada, que eu trabaio de verdade, pa ganhá meu dinherin suado qui Deus dá.
-- Mas amigo, por que você não ligou para mim? Quem sabe eu poderia te ajudar. É complicado ver você assim, logo você que eu considero tanto.
-- Amigo véio, a tua consideração por eu inorme, e a minha por tu também, tu sabe disso. Eu pensei em ligar pra tu, mas nem oreião pude usar. Meus fio tão passando por momentos dificis, sabe. Eu to sendo insistente, por que sinão meus menino não se forma, não ganha diproma e acaba por ficar igual a eu. Pobre toda vida. Tem vergonha da minha pobreza não, amigo. Mas se a lavora que ainda ajuda, pudesse ajudar um poco mais, eu ficaria mais feliz. O dinhero ta curto, as criança tão só almuçano e jantano.
-- Quem tirou teu emprego, amigo? É um absurdo isso que está acontecendo com você!
-- Foi o gerente lá do corte da cana. Ele falô que nóis não precisava mais ir, que nóis não sivia mais pra nada. Lascô nois muito. Eu só num meti a mão na cara do sujeito por que papai me deu a educação que aquele poico não tem!
-- Amigo, vou arrumar um emprego para você, mas será lá na cidade grande. Posso te dar uma ajuda para você poder nivelar a sua casa e poder viajar bem, para poder ganhar seu dinheiro, dignamente.
-- Eu gosto de ocê por isso, mô véi. Ocê fala minha língua, fala mais bonito inté! Quero que meus fio fique igual a ocê. Tudo chique nos paletó deles tudin, pra me dar o orguio que não dei a papai. Não dei pur que não tive oportunidade. Hoje as coisa melhoraro uma coisinha. Teve esse pobrema agora, mas to me segurano do jeito que dá.
-- Eu admiro muito a sua perseverança. Dá gosto de ver você cuidando dos seus filhos. Homens como você não nascem constantemente. A seriedade, a sobriedade e tudo de mais simples e mais bonito você tem.
-- É nada disso não, amigo. É pur que viver do jeito que agente veve é muito difici, mai agente faz por onde. Jesus Cristo sofreu tanto, mas no final conseguiu. Eu sofro tamém, sofro sorrino, pa meus fio não passa pelo queu passei. Pa tudin ser home de bem! Pa ser honesto, paga as conta, sê um cabra macho educado todo, respeitoso com as muié nova, véia, com os veio tamém. Pa num ter essas mão caliçada de tanto trabaio pesado. Eu sei que é difici vivê do jeito que nóis veve. Mas eu agradeço di coração, viu amigo. Quaiqué coisa eu faço. Muito obrigado mermo, viu. De coração, Deus que lhi abençôe! Mas pur que o sinhô ta chorano?
-- Nada não, meu amigo. Foi só umas lembranças que tive agora, infelizmente me emocionei. Se preocupe não, seu emprego está guardado e por nada nesse mundo você vai passar por isso novamente. (Um amigo enxuga as lágrimas do outro)
-- Chore não, cumpadi. Num quero amigo meu chorano por danada de lembrença ninhuma no mei desse mundo. Ocê ta cumigo e pro que precisá eu tô aqui. Feliz pra toda vida e quero ocê feliz tamém!

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