o intérprete.

          Comenta-se que no ano de 1900, no interior de Pernambuco, vivia um rapaz chamado Rafael. Menino maneiro, matuto, inteligente e conhecido. Filho de mãe portuguesa, nação mãe nossa, e de pai alemão, que fugiu de lá se sabe o que, que iria acontecer na história do mundo. Sempre foi um garoto de expressão incomum, mas agradável, como se já tivesse vivido, como se conhecesse a forma humana e se comportava sabiamente. Nunca teve acesso à educação, família pobre, isolada de informação, mas tradicional e ranzinza. Tinha apenas e magnificamente o dom de fluir em todas as línguas. Tanto escrevia quanto falava. No tempo em que vivia já se comentava que na Inglaterra nascera um tal de Soccer e ele sabia perfeitamente de como se procedia, com as barras, a bola e o gol. Menino sábio, vai lá entender a cabeça de quem dá ‘dom’ aos outros. Por ser tão especial, o rapaz já ganhava trabalho com as cartas que os pais mandavam a seus familiares distantes, além da vizinhança que sempre intercedia a Rafael. Dizem que ele foi o primeiro intérprete pobre, fato novo e desconhecido da maioria do estado. Enquanto adulto Rafael Arcanjo, como se chamara, seguiu à capital em busca de respostas quanto a seu dom e assim fora bem recebido, pelos religiosos, que compreenderam sua história diferente. Encaminharam o gajo para Olinda, onde se concentrava a maior parte do clero pernambucano. Lá, morou para o resto da vida traduzindo livros e escritos antigos. Muitos o chamavam de Rafael, o Rei das Línguas e regou sua carreira de intérprete sendo pouco conhecido pelos leigos, mas festejado pelos religiosos da época. Alguns dizem que ele, depois de morto, realizou milagres e até vivo, era um tanto estranho, quando ficava só, nas igrejas. Até hoje se questiona a sua procedência espiritual.

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