o homem do cassino.

Tragando um último cigarro, Risor andava pela calçada, a passos largos e lentos, numa noite fria, pouco clara. O asfalto dava sonoridade ao andar do homem noturno. Ele já estava perto do cassino, quando desceu dum carro Marie e o beijou, ligeira e suavemente. Apenas fitando-a, e com um movimento de frieza, Risor afastou a do seu caminho e seguiu a caminhada. Entrou no cassino, encostando o sobretudo na entrada. O lugar era bem aristocrático, de homens com personalidade privilegiada. Risor era o proprietário da renomada casa de jogos. Em segredo, claro. Dirigiu-se ao balcão, pedindo cigarros e uma garrafa de vodka sueca.  Na sua mesa, olhava todo o movimento. Ninguém se dirigia à sua companhia, pois era cheio de mistério e muita arrogância.
Eu estava circulando pelo bairro, quando me lembrei de visitá-lo. O conheci em São Petersburgo, em uma de minhas passadas, quando visitava outro cassino seu. Ele sempre foi calado, mas o vi só e resolvi conversar. Como sempre, ele não receptou bem, mas com jeitinho, cheguei a conhecê-lo e hoje somos bons amigos. Encostei a Mercedes no acostamento e entrei. Procurei sua mesa e ao reencontrar, ganhei apenas um terno sorriso. Fui buscar uma cerveja e sentei:
— Boa noite, Risor. Eu sabia que iria te encontrar por aqui. Sei que gostas daqui, portanto cá estou.
— Não vejo motivo para sair daqui, onde tenho minhas vodkas e os jogos para observar. Isso me entretém bastante. Estou feliz em vê-lo, Mark.
— Sinto saudades da Alemanha, caro amigo. A América é um lugar muito aconchegante, mas nada se compara a nosso lar.
— Não quero nem citar Petersburgo. Sei apenas que os americanos me enriquecem e não sinto tanto por isso.
— Mas falando em valores, como vão seus lucros?
— Bons como sempre. Os caça-níqueis são máquinas que não evoluem, o mercado de jogos não se transforma, logo terei sempre a mesma margem. Não tenho perspectiva nenhuma, portanto o negócio está bom.
— Certamente deve estar. Mas e a Marie?
— Que tem ela?
— Você ainda está com ela?
— Nunca estive. Mulheres de interesse não são mulheres, são devassas. Quando meu corpo precisar de alguém, pode ser ela, pode não ser. Não sinto amor por nenhuma mulher, Mark.
— Se não amasse, não a queria o beijando o tempo todo. Não acredito perfeitamente em você. E outra: Ela cruzou o Atlântico por tua causa. Enfim, você que sabe. Ela não merece isso, é de valor.
— Eu sei com quem me relaciono. Esqueça-a. Está na hora de partir. Amanhã estarei aqui novamente.
— Está bem. Até logo.
            Peguei meu carro e sai. O Risor sumiria completamente e, como um morcego, só daria as caras na outra noite. O cassino era sua fortaleza, onde podia esquecer o mundo e degustar a sua vodka. O senhor R. tinha essa mesma vida a anos.  Era um russo agradável, porém, nunca mais o procurei.

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