vila dos velhos.

 
No meu sábado à noite
Na sala de torturas, a angústia me consome
Ligadas as bocas do fogão, fogo vermelho
Fogo puto flamejando na sala
Móveis na sala, tudo na sala
Televisão na sala, é tudo tortura
Vou-me embora pela rua estreita
Um beco lamacento, cães rabugentos
O chuvisco do céu aberto dispõe-se
O velho vizinho negro de pernas cruzadas
As antenas parabólicas alaranjadas reluzem
Porto no bolso apenas cigarro e moedas
Passagem, ingresso, crachá.
O cheiro da carne crua, ensanguentada e salgada
A fumaça de óleo sobe pela rua das crianças
Do futebol e da bicicleta
Num barraco qualquer, um garoto acessa o google
As janelas são fotografias pelas ruas estreitas
Paredes sórdidas por onde me apóio para não escorregar
Entro pela gafieira, os corpos suados dançam
Eu, despretensão em pessoa, terceira pessoa
Vejo por outros ângulos que não os meus
O brega é ralo, era promíscuo, mas o que é mesmo?
Não sabia, não saberei.
Vi dizerem: bares cheios, livrarias vazias.
Vi a vida saltitar e ser acertada por bala perdida
De fato, Manuel, a vida é traição.

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