Milady.


Milady permita-me tocar teu busto? O que nele encontraria, senão o prazer infindo? Nele deliciar-me-ia o labor da língua solta, mordiscando cada parte, imaginando o teu sangue febril circulando a mil pelas veias entupidas de gordura e torpor. O teu espartilho, que te incomoda a silhueta, faz voltas, te amarra à forma social, nada mais. Retira-o. Faz-te nua. Só assim serás mais bela. Do modo que foste concebida, eu te conceberia agora. Espalmaria minhas mãos em teus seios por um instante.  Sentiria ainda assim o teu coração bater a disritmia. Pancadas fortes, o teu olhar insano, a maquiagem desfeita pela única lágrima falsa e intolerável. Por que das tuas unhas roídas? Acaso te consomes à revelia da ânsia? Não te entendo, quando dizes que fazes o que queres. Custou-me trazer-te aqui, olhar-te dos pés a cabeça como quem procura falha. Com toda e tal descrição minuciosa, não vejo sequer pecado, não enxergo qualquer desgraça em teu corpo minúsculo, reduzido às formas de mulher ímpar. E agora nua. Agora cheia e vazia, e varias a condução do instante. É tudo que peço, vais com calma, que quero noite longa. Peço também que apeles ao silêncio. É nele que repousa o meu fetiche. Não estou a predispor minha arrogância, longe disto. Gosto da simplicidade, nos atos mais audaciosos. Um crime, que seja frio e lento, a veneno. Uma traição, que seja perigosa e descarada. Porém, que o silêncio tome nota e assuma a regência da sinfonia. Têm o corpo dinâmico, como as linhas duma serra. Em teus olhos abalados, vejo não mais que agruras. Nelas me detenho por um momento, por outro desço a vista, encontro mais uma vez os seios, rijos e pequenos. O umbigo mal feito descarta qualquer atenção, desço um pouco mais, os pelos pubianos. A tríade se alastra, dá visão a um vasto campo de não castidade. Sinto-me perder as calças. Sinto-me ereto, hostil ou viril, se assim preferes. A tua vulva não traz a mim repulsa, tenho antes um desejo infantil, olhos arregalados, mas contidos. Ponho as mãos nos olhos, cerro-os por hora. O nosso sangue. O nosso sangue une-se pelo ar. E as conexões não param, a todo instante sinto vibrações, descargas de prazer e gozo. Aonde irei parar? Aonde iremos, Milady? Trilharemos rumo ao paraíso, acredito que não. Ao inferno, melhor seria. O pecado que assumo é este. Nossa relação. Nossa vida.   

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