quietude.

A imagem me pressionou o dia inteiro. Não sabia que deveria ter a responsabilidade. Verdadeiramente, quero, sem ajuda das alucinógenas, esquecer a responsabilidade. Quero esquecer a atenção, a urgência, me esconder dentre arbustos e deitar-me quieto. As buzinas bem que podiam findar-se, as vozes calarem, até os pássaros emudecerem-se. Queria um dia só para mim, e negando a prepotência, não quero ser o único a falar, pois que o vento fale, que faça as folhas falarem, a poeira subir, as flores penderem para meu corpo, no seu suave balanço. Quero, além de tudo, abrir os braços sobre um mar de rosas, sem ser perfurado por alguma delas. As minhas insanas querências nascem, consomem umas às outras, o canibalismo da satisfação. Queria não dizer obscenidades só por hoje. Nem gesticular uma dedada sequer. A vida na paz. De repente olho para o lado, a uns quinhentos metros, um homem bomba realiza seu ofício, em silêncio. Volume no zero, caixas de som desligadas. O gênio me surpreende, a imagem ainda reflete-se na mente, como um espelho quebrado no chão, mas eu varro tudo para debaixo do tapete, quero gozo. O gênio anota tudo no caderninho. A tequila com sorvete, num copo colorido ao meu lado. Assim seja. As delongas, repetições duma vida sem jeito. A formatura, a promoção, o enfeite de natal. Efêmeros pra caralho. Excedi-me. Estou bem, as rosas com seus espinhos moderados, a tequila com o sorvete, o bom homem-bomba, cadáver respeitoso, o silêncio e as satisfações, um gênio. E a responsabilidade? No café, lendo seu jornal da semana passada. E disse-me ainda, em nosso último encontro: cuidado com a violência nas ruas, não me traga desgostos ou gastos.       

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