Prepúcio.



Não me fechei para os fatos. Sou uma lasca de sensações, para quem nunca viu, senão a parede da caverna. Era preciso ter virado o rosto, somente. E, no entanto, quem virou? Era por preguiça ou preconceito? Melhor ter-lhe oprimido, reprimido, ditatorialmente. Quero que sintas a vida totalitariamente. Indo por camadas, óbvio, mas indo. Visitando os bares da cidade, gracejando as putas, se deleitando entre arbustos num jardim burguês. E do frio transformar no calor, da quentura partir para refrescância.
Não me venhas circuncidar, porque nas circunstâncias me dou bem. O meu fim é a noite, a cama, o beijo e o prazer. Mesmo na dor da doença, eu me regozijo, faço fé que um dia estarei despido num coliseu ou no parque 13 de Maio, praticando ou recebendo um fruto da oralidade. Livre como um michê sem clientela, nem rua para comercializar-se a si próprio, sem o compromisso de comer por salário. Não lhes cobrarei a sobriedade da masturbação, porque eis o único ato de amor a si, é dar-se prazer e depois a misericórdia. Que eu não me subestime e saiba me controlar!
Não preciso de pudor. Sempre que me notam, arregalam os olhos, engulham, enchem a boca d’água, se espevitam. A penetração é a minha maior e melhor façanha. Introspectivamente, vou conhecendo a volúpia e carnosidade. E os corações que destruí, nem recordo. São episódios que subscrevem essa vida ingênua, calorenta e ociosa. Os métodos anticoncepcionais não me previnem de pensar o que quiser. Eu vejo as calamidades, mesmo por detrás do vidro. Tenho minhas concepções formadas sobre aborto, futebol e drogas, entre demais futilidades.
A purulência da vida é um caso sério. É uma gonorreia que nunca passa. Canalhice, corrupção, hipocrisia, aparência, cobiça, valores inglórios. Sou feito da essência das coisas, dos sentimentos, das vertigens. O que sentimos, transformamos em vida. É uma escolha desgraçada abster-se da realidade e partir para hipóteses. É masturbar-se sem musa ou varão que nos ampare. É ser voyeur da chateação, da burocracia e da mesmice, gozando no declive da mentira. De valores efêmeros que nada acrescentam no tesão do conto. É para isso que existo: prevenir contra equívocos de excitação e proporcionar a gozada verdadeira.

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