Herança.
poema dedicado a quem me ensinou a teimar: minha avó.
Como coisa que só avó entende
Ela dava aquele empurrão
Para a gente seguir na vida
Uma oração, um conselho e um cheiro
Minha sempre senhora
Punha-se na madrugada fria
Sobre a mesa larga da cozinha
Comia maçã e depois se deitava
Nessas horas, a gente só é menino
E eu não segurei o choro
Porque não houve tempo para adeus
Só Deus para guardar minha avó
Disse o bispo que amor com amor se paga
E já que minha avó foi madrinha de todos
Restou a gratidão à sua fé inarredável
Sim, todas as avós rezam e nos defendem
São a dose de amor que transborda a justiça
Porque Eulina era mamãe-vovó para mim
Foi um colo de carinho e isso me bastava
Como teimosa que foi, a vida inteira,
Desafiou o que lhe foi imposto.
Agora, me dói o peito escrever
Sem que ouça sua voz plácida a ditar
Na condição ingênua de jovem
Nunca pude fazer tudo direito
Minha velha simplesmente sorriu
E consentiu que eu crescesse em paz
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