Acidez de espírito insone.
O
que teme um menino numa cidade grande como esta? Avenidas vazias, ruas
desertas, mentes ermas de pensamento qualquer. Um segurança de escola pública
traga seu cigarro em paz, os ônibus trafegam solitários. Nas zonas abastadas,
algumas boates soam a melodia ecoante da madrugada recifense. Algumas cabeças não
pensantes dormem um sono frágil, para levantarem às pressas e montarem
tabuleiros, barracas, de onde tiram o sustento. Criminalidade? É um risco com
que não contamos. Putas às esquinas, solícitas? O corpo só pede uma cama macia,
e que não haja calor incômodo.
Mas,
uma vez às ruas calorentas, estou aturdido pelos sexos ambulantes,
sensualidades recatadas pelo pudor da moral e dos bons costumes, de que tanto
nos acostumamos a lidar. São as paredes por aonde não adentramos nos corpos que
desejamos. São polícias que não permitem que o pudor receba qualquer atentado
sexual. E as bundas saltitam rebeldes, os seios brotam num decote debochado. A
cama já devia ter me levado à terra de Morfeu, mas fico aqui pensando essas
safadezas.
E
da violência não digo nada, porque estereótipos do banditismo invadem a cidade
para amedrontarem os sociólogos, pedagogos, políticos, proletários e a
estudantada de espécie qualquer. Não, não vou proferir qualquer preconceito
covarde, longe de mim isso. Não vou tomar a dor de ninguém, porque se não
tivesse de doer, não doía e pronto. Mas há a violência e o medo. Há marginais
esquecidos sem direito ao luxo e por isso, vivem do lixo. E do roubo e da
escória do que consumimos. E por que consumimos? Para alimentarmos um leviatã
insaciável, que infestou a face da terra.
Por
este motivo breve, um medo e um desejo incompreendidos. Uma chance de responder
a todas as perguntas em 1 segundo. São sempre desafios e prêmios milionários. Uma
terra cheia de bons e maus com prazo de validade. Um paraíso lotado de
veleidades e um inferno, que poderia ser muito bem uma fila de banco eterna,
como já disse alguém. E esse menino não pode dormir em paz, sabendo que alguém
se flagela para encher a barriga de comida estragada. E que não há paz de
espírito, enquanto o filhinho do papai não tornar à casa bêbedo e com o pênis
esfolado de tantas transas supérfluas.
As
confluências que o ser humano insiste em criar, para narrar essa história
criativa, porém pusilânime, cheia de dúvidas infinitas, são elementos de um
uísque que vai sendo envelhecido ao passo em que se descobrem os segredos da
fermentação, à espera de um ser muito superior que o consuma.
Comentários
Postar um comentário