Faixa de pedestres


O tempo ardia às 11 da manhã, estávamos sobre um canteiro ao final da avenida. O sol reluzia solitário, sem nuvens, era novembro de 2012. Uma câmera antiga, um guarda sol, cinco homens filmando a via pública. Pedestres circulavam perigosamente, d‘um lado para o outro, pela calçada. Eu tinha sido encarregado de dirigir as filmagens.

Meio confuso, eu não tinha na minha mente um plano lógico. As imagens foram se sucedendo e ganhando vida. Eu era um elo dispensável para a produção, que mais se deslumbrava com a novidade do que captava o documentário.

Mesmo assim, a vida daquela avenida tinha de transcorrer naturalmente. Os olhos curiosos dos transeuntes nos espiavam: “Será a rede Globo?”. Uns queriam aparecer, outros não. Uns sorriam, outros se esquivavam das lentes. Mas queríamos capturar uma expressão natural.

Para um ônibus lotado e descem pessoas em direção ao call center. Os carros passavam insensíveis. Motoristas apressados, raros os carros corteses que dessem passagem.

A mulher grávida deslizou a mão pela barriga, enquanto aguardava. Uma senhora de bengala caminhava impaciente, desviando dos obstáculos. Os outros mais tentavam cruzar a pista, apreensivos. O pé arriscava a travessia; vinha um carro louco e o fulano desistia. Esse vaivém arriscado seguia-se diariamente. Agora na película, ganhava um segundo de eternidade. 

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