Libertinagem amorosa
Dois corpos negros se
embolavam sobre um colchão na grama do parque. Nada que eles fizessem chamaria
a atenção das pessoas. Mas era uma troca de carinho, dois mendigos abraçados,
buscando aconchego no calor do outro.
Filhos de ninguém, parentes
do mundo, eles sobreviviam às torrentes naturais e à indiferença. Criados sob a
fumaça das chaminés e dos canos de escape, a sujeira urbana vestindo-os de uma
crosta ensebada, defumados pelo desuso, a inutilidade, a obsolência da máquina
humana. Fadados a perambular sob as marquises, a sombra das árvores, um
subsolo.
Mateus era jovem,
analfabeto, que nutria a querência pelo alimento. Catarina, mulher vivida, um
olho cegado numa briga, alguns abortos e crença em coisa alguma. Negros,
cabelos crespos, dentes podres, roupas esfarrapadas.
Num colchão mofado, sob um
pé de manga, dormiam Mateus e Catarina, ao relento. Ventanias, multidões
desembestadas, policiais enfurecidos, tudo isso atingia o casal de pobres
diabos.
A luz do crepúsculo
varava as folhagens do parque e o beijo de Mateus e Catarina irradiava amor.
Ingenuamente, o rapaz tomou a mulher no abraço em rodopios e beijos
apaixonados. Na pista de corrida, loiras e idosos cuidavam da saúde...
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