Um domingo belo I
Despertei com a cara amassada
pelo travesseiro. Da minha janela, avistei a aurora. O sol pálido, o tempo frio,
a brisa de verão deram partida àqueles dias duvidosos. Levantei-me com esforço
e me arrumei pra sair. Procurei pela casa, Luiza tinha sumido. Sobre a mesa, um
bilhete: Fui ao salão. Resolvi me barbear. Tomei uma xícara de café reforçada,
e sai pelas ruas da comunidade. O cachorro ainda dormia no terraço.
Vielas e ruas estreitas, com
carros velhos estacionados por cima das calçadas, as casas trancadas de cadeado
e o coração dos lares por desvendar. Na nebulosidade do silêncio matinal, uma
casa esverdeada tinha um rádio ligado ao som de Gonzaga. O vento vinha na cara,
me saboreando. Um domingo de janeiro.
Na parada de ônibus, fiquei
sozinho. Na calçada de um bar próximo, umas mulheres bebiam à mesa. Com a maquiagem
intacta, elas troçavam, gargalhavam. No fiteiro-casa, estava um senhor
debruçado à janela, pensativo. Os pássaros cantarolavam nas suas gaiolas, um
gato caminhava pelos telhados, distraído com as ervas das telhas. O ônibus não tardou.
Logo eu estava a caminho, meio ansioso.
Cheguei ao salão de beleza e a
Luiza estava na fila de espera, com a mão n’água, amolecendo as cutículas. Com cara
de sono, ela abriu um tímido sorriso ao me perceber. As mulheres conversavam em
risadagem solta. Eu a deixei se embelezando e fui comprar um jornal.
Fumei um cigarro, li duas páginas
policiais e dobrei o diário. Passei novamente no salão, beijei a Luiza e peguei
a motocicleta. As crianças já brincavam nos terreiros e algumas mulheres estendiam
roupas nos varais. Fui comprar cerveja...
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