Atrofia.


Eu preciso contar uma história.
Não é que já tenha em mente,
Mas minha voz palpita por
dizer alguma coisa.

Talvez seja uma perspectiva ilusória
essa que me aflige.
Que seja!

Sabe um viciado em crise de abstinência?
Sou eu a querer dizer.
Não é que as minhas palavras
salvarão pessoas.

Não tenho a retórica desejada,
tanto que tendo a transformar
isto que digo em falatório.
No sense, pra completar.

Mas preciso explicar
que me sinto sozinho,
perene, desconforme,
absorto, esquizofrênico.

Além disso, preciso dizer
que estou morrendo sem me consertar
sem me converter no ser humano perfeito,
sem concretizar os sonhos de consumo.

Não serei nunca gênio.
Faço parte de uma geração póstuma
que aboliu a história.

Vivemos o conto do vigário.
Fomos emudecidos e postos no clorofórmio.
Para nunca mais pecar.

— É preciso seguir a sequência.

Fiquei cego e pragmático.
Apático, cibernético e desgostoso.
Apagaram-me o vigor.

Tenho que relatar tudo isso.
Se façam ouvintes, mas
não me permitam monologar,
porque será fatal.

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