Ironia

Vô José, por Ruben.

Óbvio. Sempre esteve aqui
na nossa frente.
Sabíamos, desde o começo,
mas preferimos o masoquismo,
o sofisma, as marionetes,
pois que o sol derreteu
as asas de cera, corroeu
as máscaras, deixou somente
a verdade.

Sem corpo nem alma,
era irredutível, incrível
e assim se fez verdade
verdadeira, verossímil
humana, óbvia.

Como cada instante
que não pensamos e só
sentimos, só existimos
opacos, fracos, maniqueístas.

Reféns dos sentidos
vigoraram ditando a norma
até que a loucura assolou
o homem, permitindo-o
criar o fogo, a roda
o signo para fora do olho.
"Se aquece, jovem cretino!
Te disse da frieza do mundo,
e me ouviste?"

"Puta que te pariu
E a todos os homens
Vivos e não vivos
Filosóficos e mamelucos
Mulheres e travestidos
E condenados a diferir."

Que portanto se ofendam.
Porque assim correspondem
às expectativas de quem
os criou: binários reflexivos
bárbaros desérticos
que se alentam em
seio materno e por isso
vivem a sanar a obviedade.

E a revolucionar se deixam.
A todos os dias partem,
Sem saber se voltam.
E voltar para onde?
O mundo é uma esfera
com o centro em todos os lugares
e a circunferência em lugar nenhum.

Eis a glória, eis o regozijo
do poeta, destoando palavras
ao léu, a deus.
O homem possui a língua 
que possui o homem
prisão perpétua
que ora liberta
ora castiga
apregoa a poesia
cada ironia do destino
como oração constante
do perpétuo socorro
dos homens desvanescidos.

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