A justeza das calças curtas


Às cinco da tarde
Os carros já iluminavam a penumbra
Com seus faróis, nos vácuos dos postes

O escuro do entardecer pintava
Os prédios do centro da cidade

Os últimos raios de luz cortavam
As janelas dos ônibus trôpegos
Que se amontoavam na avenida

Com a pasta debaixo do braço
O advogado retornava tranquilo
À sua casa e filhos

Ao consolo de esposa submissa
Que lhe aliviava a tristeza
De guardar a porta da cadeia

Os contos insanos de realidade
A serem travestidos em mentira
Com respaldo de um falso álibi
Tiravam o sono do jurista

E a natureza inócua que o adornava
A personalidade inofensiva e ingênua
Eram atrofiadas, ocultas ao sabor
Das atrocidades dos detentos

Cada um que contasse um estupro
Uma morte, uma traição da vida
E iam se amontoando vinganças
À sua carreira inexperiente

O advogado tomou o ônibus
Sentou-se à janela
O ar sufocava-lhe os pensamentos

Eis que a morte bateu à sua porta
Sem ligar para os bons préstimos
Sem justificar ou provar nada
Através de uma ética cortante
Um sopro de morte tirou-lhe
     [a parca pulsação

Levando-o a um crepúsculo estéril...

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