Poema sobre um mundo em potencial
A vida sempre exigiu pessoas de temperamento.
Nunca consigo ser uma delas.
Não por muito tempo.
Pessoalmente, não sou adepto do drama,
da efusão, do saudosismo e das
relações intimistas.
"Hoje no trabalho, veio uma moça vazia e simplória
abraçar o Sérgio. Bem efusiva, dinâmica e inóspita de sentido."
Sou de relações esparsas.
Não cultuo o verossímil, porque não chego a entendê-lo.
Minha proposta é a carne, sem temperamento, nem intermédio, sem meio de campo.
Odeio azeite com sabor vencido.
Mas é a tônica. Que há de se fazer?
Grunhir baixinho, enquanto se bate uma matéria, palavras de baixo calão.
Talvez porque eu seja pouco zeloso, a vida me calejou tão pouco.
E por isso, estou entregue à minha própria sorte, o que é uma grande maçada.
Me ensinaram que no fim do arco-íris havia ouro e esse ouro reluzia. Minha regra dourada, agora, é perseguir essa luzidia excelência.
Sem mais nem menos.
Porque geralmente há uma embalagem e um conteúdo. Um propósito e uma maneira de alcançá-lo.
Tenho sonhado ser gênio, mas gênio de quê?
Muitos o são, pelo menos, da maldade.
Por pouco não fui da frigidez.
Mas inserido no marasmo da anti-genialidade e da anti-gênese, onde a celebridade anula qualquer possibilidade de perfeição e exceto, sou só produto do indivíduo/massa.
O advento da internet nos possibilitou o estilhaço do diamante em high definition.
Houve o desgaste do esmero e o fim da preponderância, da argúcia e do sentimento humano.
Somos só o vazio e o que restou de nós.
A casca e o universo flamejante.
Uma atrofia constante.
E qual a minha parcela de culpa?
Sou só um ser errante que ainda aspira ao domínio do verbo e do carisma.
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