Gente interessante
Argumentos
falhos para conquistar beijos baratos. Essa é a maçada. O problema é que esse
meu gênio não aprende, não tem vergonha na cara. Tenho malícia no olhar, no
pensamento, no sentimento, mas sou baixo. De baixeza, vileza. Mesmo que a moral
permitisse tal vileza, sou pouco atilado, faço pouco do meu gênio, da minha expertise.
É uma crueldade no olhar. Equiparando todas as mulheres à mesma
superficialidade, àquela representação do prazer, do que é terminal para mim.
Como a agulha da seringa cheia de veneno. Não faço cerimônia, não uso símbolos,
não tem sofisticação na minha libido. Um homem baixo, no último nível da
vertigem sexual.
-
Marcela, tudo bem? Quanto tempo! Me deixa ver teu peito? Me mostra tua buceta?
Me beija bem gostoso? Me encontra na esquina? Não me respeita na cama! Não
recusa o sexo anal. Não vira o rosto para a minha tapa. Não se esquive da minha
virilidade imbecil. Não se vá, porque o disparo te pega no meio do caminho. Não
rejeite meu desejo!
(A
mulher tem um revólver e ela vai te matar e vai viver sozinha no mundo seus
últimos dias, porque o pênis é de pedra e a vagina, por si só, sobrevive às
intempéries. Marcela saca a navalha e corta na carne o nosso relacionamento,
qualquer que seja. Marcela é viva. Eu sou morte.)
Não
sei dizer porque essa fragmentação da inteligência (inteligência de ser
inteligível, de ser humanamente racional). Me joguei ladeira abaixo. Me
levantei no fim da queda, cheio de arranhões, passo firme, o sorriso no rosto.
A carne flamejante, a respiração turva, o marasmo físico. Corpo cingido, mente
sã, pensamento em linha reta, como telefone que dá linha e espera alguém
discar. Como um ônibus desgovernado. Funciona, mas não tem sentido. Só responde ao nosso chamado.
O
mundo é feito de vezes e em algumas, o corpo age assim. Sua virtude é executar
o desejo da matéria que veio do nada. A magia que se choca contra o paredão, o
mágico emparedado para sempre. Imperícia. A corda no pescoço, a faca sobre a
carne.
(Durante
todo esse texto, o ser humano teclou calado, silencioso, com o pensamento e o
coração silente, despejando ideias absurdas, compactuadas com as bactérias do
ar do Recife, que percebem meu olhar duro, minha fraqueza sexual, minha
violência psicodélica. As almas das pegadas no chão da ponte. Tudo isso digita
as ideias por mim.)
Sexo
violento e nonsense. Cabelos assanhados. Decote. Disparo de olhares na
multidão. Gente interessante.
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