O fragmento verdadeiro


Há sempre um fragmento
O vento que trouxe aos nossos olhos
Nos deixa lacrimejantes
No sentido de nunca chorar de verdade
É a desculpa.
Sem mais delongas, o mordomo se apresentou
Deu suas razões simplificadas
      - Moro longe, vivo só, manco a perna direita
Era só isso até então, mas então veio a doença
Tirou-me o sobejo
Aos poucos, estive arquejante
A pobreza tocou minha porta
Levou o mordomo fumante
Corrosão era o nome do meu lastro
Pegadas mal feitas na areia da praia
Eu sempre passeava.
     [Diziam que era bom para a saúde]
Mas nunca recuperei aquele ânimo.
Um único sapato me apertava os calos
Logo me desfiz dos pertences
Logo compreendi a força das letras mortas
E o ar me preenchia de prazer
Certamente, não vivi dois segundos depois
Que o fragmento entrou no meu olho.
Era um caco do espelho da verdade.

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