Poesia excêntrica dos meus cabelos



Meus cabelos assanhados pelo vento sujo da cidade
Não sei o que seria de mim sem meus cabelos
Não sei.

Tu passa essas mãos inofensivas e macias nos meus cabelos


De repente estou na margem do rio, sozinho. É noite.

As corujas piam em volta da minha cabeça

O mundo exige: nunca é suficiente


Por mais que você corra, por mais que você ame, por mais que se dedique.


No final: meu filho, meu amor, meu querido.

(um suspiro)

Sinto teus dedos acariciarem minha cabeça, fazendo cafuné.

Tu não se chama.

A poeira do mundo quase fecha meus pulmões em tosse.


Quero todos comigo. É tão pouco.


Todos. Tão pouco.


Quando fechei os olhos, senti o vento no meu rosto, nos meus cabelos longos, loucos.


Eu tinha guardado tantas poesias no cabelo. Guardei para mim e, se arranjasse um amor, daria os versos a ela.


Mas meu corpo boia pela cidade, 

como afluente daquelas pessoas todas em meus olhares vagos. 
Estou pelas mãos dos trabalhadores, 
retalhado no cano de escape dos ônibus, 
espalhado pelo pó das estradas, 
na fuligem assentada sobre as asas do pardal, 
o orvalho que encharca a cabeça diminuta do beija-flor numa dessas tantas manhãs.

Meus cabelos estão misturados aos pelos do gato, no canto do sofá e pelo tapete.


E a essas mulheres que eu amo, o meu cabelo é um símbolo mínimo de magia.


Meu cabelo é o cacho e o embaraço.


É a curva e a esquina. Meu cabelo é o quadro da bicicleta, o cacho de uvas, o ramalhete, a trave, a rede e o gol.


Meu cabelo é a teia e a aranha juntos. Meu cabelo é o amor e o repente.


Meu cabelo não é apenas corrente, mas todo o curso do rio.


Meu cabelo, para onde vai, é tatuagem que preenche, no teu colo, o vazio.


Entre teus dedos pequenos, dessa tua mão macia, meus cabelos, meu amor.

Comentários

Postagens mais visitadas