parada de ônibus.
Ônibus 161, 04h45min, estava retornando do que seria, particularmente, o melhor carnaval. Já tinha acabado qualquer troça e agora só no próximo ano. Sentado no meu cantinho, na maior tranquilidade, recordava meu festejo que brinquei só. Estava calmo, uma madruga serena. Numa parada, adentraram no ônibus coisa de quinze pessoas. Começou o barulho, perdi o sossego e o sono, mas o caminho era o mesmo. O ônibus ia em direção ao subúrbio, bem comum. Comecei a fitar os novos passageiros. Pareciam serem amigos. Todos juntos. Usavam roupas carnavalescas normais. Fantasias, camisas de bloco, de estampa. Igual a mim, aparentavam ter aproveitado o período. Nada muito anormal e continuava o trajeto. Em determinado momento, já não se viam prédios, nem centro. A partir daí que se iniciou a movimentação maciça, os diálogos, troca de informações, cochichos. Palavras em maior tom e menor cautela. Agitação. Iam num ritmo crescente. Fiquei desconfiado. Algo me alertava, no inconsciente. Não dei ouvidos e cai. Era um assalto, desarmado, forçado, brutal. Gritos, socos, tapas e puxões. Alta tensão, nervosismo. Pessoas atacadas em histeria. A loucura era enorme, do começo ao fim do coletivo, que seguia viagem. Eu, sem reação, perdi meus pertences, minha voz. Eram pessoas distintas, obviamente. Via em seus olhos, agora mascarados, a ambição, a ira, ganância. Não agi nem resisti. Cedi aos militantes e pasmo fiquei. Desceram. Os passageiros ficaram ilesos de vida, mas expressivamente abatidos. Um clima infeliz, de revolta reinou dentro do veículo. Foi um fim dramático para tal peça. Eu desci na minha parada e por lá fiquei.
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