Concurso de vitrines

Como suspeitar que, por detrás do sorriso
iluminado de alguém, se esconde uma doença da alma? E pensar que a sociedade do
espetáculo intensifica essa doença, dando-lhe asas...
A economia das curtidas
se apossou do nosso sistema nervoso e, agora, já não tem mais jeito. Cada
palavra dita nas redes é, simultaneamente, uma oferta à procura de demanda, é um
diálogo com o público-alvo, é consumo de emoção, cada palavra dita nas redes é um
sintoma. Uma paródia moderna do livro O Alienista, numa cidade onde todos são
loucos, onde todos apresentam suas neuroses.
Só que a internet é como um
concurso exótico de vitrines de todos os tipos. A métrica entre o que você é, o
que você quer parecer e a impressão que você realmente causa. E se antes a
ciência já havia diagnosticado a bárbara dinâmica dos complexos de
superioridade e inferioridade - complexos que provocam no corpo uma angústia
tremenda, calcada na vaidade com que experimentamos o mundo - agora a exposição
da internet materializa até nossos suspiros e hesitações. A internet como um
meio potente de performatizar nossa personalidade e nosso ego.
Logo, um sorriso
bobo de alguém que sofre é um signo cínico de uma sociedade que já perdeu sua
máscara. No auge da pós-modernidade, do projeto neoliberal para tornar o mundo
praticamente um vácuo de justiça que permita a maximização do consumo e do
acúmulo de capital, não sabemos o que fazer com uma quantidade tão concentrada
de Verdade. O mundo nunca esteve tão descoberto.
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