Que me perdoem os fotógrafos.


Nesses dias, descobri um belo site de fotografias. Fiquei deslumbrado pelos ângulos e a criatividade dos fulanos. Não eram fotos ordinárias, mas intuições, recordações, imagens que tentaram eternizar. E no final, o tempo consumirá toda memória. E então, por que criar uma figura? Será que não aumentaria nossa angústia em saber que fecharemos os olhos para tudo isso? Talvez. Temos que pensar que a vida não finda, tampouco é perpétua. Que joguete, que maçada! Somos reféns da especulação.

Até que o relativismo extrapole, olharei para minhas fotografias com certo remorso. “Deveria estar mais risonho nesse dia, não poderia ser assim sempre”. E cantaremos o Epitáfio dos Titãs, olhando para memórias que não podemos reconstruir, reler ou retocar.

Que tal reinterpretar? É uma carta na manga. Precisamos viver reinventando, como já dizia Cecília. Mas é tanta retratação, tanto pelo menos: tudo bem, estamos conformados. Contudo, estamos diante da reviravolta, da feitura da vida. Chega de vivermos atribuindo culpa ao destino, à deus, aos búzios ou a quem quer que seja. Chega dessa berlinda infinita, tamanhas humilhações, castas e discriminações. Acho que deveríamos atribuir, no máximo, os incidentes à nossa sorte. E as cagadas também!

O que quero dizer é que escrevemos nossa vida.

Se formos bons ou maus escritores, já é outra estória. O que não podemos ser é eternos fotógrafos dos fatos. O “eu fui” morre, a natureza recicla. Fazer é necessário, reinterpretar é imprescindível, reinventar nem se fala! O passado nos aterra, porque sabemos que, um dia, seremos partícula substituível dele. De algum jeito.

O meu pedido é que louvemos o ineditismo. Não precisamos nos suicidar ou nos esconder a vida inteira dentro da multidão. Os purismos nos separam, a epifania nos coloca em disparidades mitológicas. Somos feitos de carne e osso, o tempo nos corroerá, a menos que vivamos a vida. Perdoem-me os fotógrafos e cinegrafistas, mas escrever os roteiros é bem melhor.

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