Pipas de seda e sentimento.
Suave como uma palha esvoaçando
pelo ar, nossa alma se perpetua, pela liberdade que nela se estabelece. Dois
quilos de metafísica, por favor! Porque ainda não entendi o que se passa por
além dos meus olhos ingênuos. Houve quem abdicasse da alma, para nutrir-se do
óleo das coisas concretas, sentir a audácia dos atos insanos, varar a luz e o
vento, como uma flecha inflamada, que não enxerga um alvo, e viaja pelo
horizonte, rasgando o céu. Eu me sinto assim, infinita brevidade.
Eu ainda não sei o que quero com
as coisas. Imagino-as falando comigo, como se fossem pessoas. Sinto, às vezes,
que há algo por trás delas, me espionando, observando todos os meus atos e
pensamentos, indagando sobre as minhas intenções, juízos, meus sentimentos, fazendo
um relatório completo de todo o meu espírito.
Caminho pela casa, olho debaixo
da mesa, da cama, procuro em cima do guarda-roupa, nada encontro. Vou à
varanda, avisto o céu inteiro, até minha vista esbarrar na linha do horizonte,
cheia de nuvens vãs, mas nenhum espião, nem admirador secreto ou agente de FBI.
Nenhum disco voador, espírito maligno ou sombra de apocalipse.
Me pego, então, sentindo saudade
das pessoas. Aquelas magras e gordas, com seus sotaques, dicções imperfeitas,
catingas de sovaco e gargalhadas barulhentas. Gente inconveniente, que telefona
cedo do dia, que importuna por implicância, que perde tempo fazendo fofoca. Até
dessa gente me deu saudade.
Mas sinto saudade mesmo é do
sorriso largo e do carinho macio, que faz minha pele áspera se desfazer em
arrepios. Sinto falta daquela gente que me tira a enxaqueca com duas palavras –
Bom dia! -, sujeitos desengonçados, palavras bonitas, astúcia inesperada,
mulher cheirosa, homem honesto, de tudo isso eu sinto falta.
Um bom amigo, que a tudo ouve,
não deixa nada escapar, que muito fala e também complica, o cuidado misturado
com a loucura partilhada, uma história secreta de bons momentos unidos e
únicos. Amigos são sempre bons, para nos mostrar a vida por outros olhos. Bons
amigos são irmãos que não tivemos. Pra nos prover da bondade que não soubemos
adquirir sozinhos.
O amor que me atinge em cheio, do
que eu realmente sinto saudade, é o da mulher. Que me tornou o que eu sou, de
completude. Acho que preencheu os vazios, e agora me sinto um quebra-cabeças
com peças perdidas. O amor da vida, aquele com que ateamos brilho nos olhos,
que faz a batida do coração soar forte. Olho-me no espelho e enxergo outra
pessoa. Pessoa com que sonho uma tarde de domingo na rede, balançando ao léu. E
se torna o paraíso e a felicidade.
Essa saudade me deixa suave,
porque carrego tanto dos outros em mim. E sou um corpo pesado, denso de marcas,
numa cronologia enfadonha, de tantos episódios repetitivos. Mas, que soube
procurar o sumo do prazer, entre diversos amargos.
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