Tudo gratuito


A velocidade desintegra o homem
Por que a pressa?
Seguro o coração no peito. Não sei se coloco meu coração no peito dela.
Não vou ficar vazio. Não quero ficar só.
Amarro a alma nos meus braços.
Na descida da ladeira, essa minha alma se desordena pela iminência do fim.
No desespero, meus pulsos ficam roxos da força da alma.
Tem jeito de botar a alma pra fora do corpo?
Só pra dar um passeio, no máximo?
Então grito até sentir sangue na língua.
Que gosto amargo!
Vejo o fundo do precipício, com seus pedregulhos... (olhos esbugalhados)
(o som da bateria em ataque solo retorna ao ambiente)
Não tem mágica.
Olhei para trás e o mundo estava lá, opaco.
Só tenho que guardar o coração e segurar a alma.
Ainda pálido, nervoso, morto por dentro, caminhei até o vilarejo ermo.
A civilização vivia a tarde de domingo, como coisa qualquer, por dentro e por fora. Havia luto nas portas das casas, porque a vida cumprira seu acordo com a morte, mais uma vez.
Avistei, entre os arbustos, uma moça. Era Cecília, eu vi seu nome escrito no ar.
Ela estava completamente nua. Seus seios, sua vagina, seus cabelos castanhos. Peito aberto, pele morena, perfume. Suores corriam como as nuvens de um dia passando.
Tudo mudava, eu percebia. E percebia que percebia.
Ela gostava do meu olhar. Meu coração disparou.
Olhos silenciosos, não sei o que dizem. Não sei o que dizem.
Tento correr. É inútil.

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