Who wants to live forever? (Queen)

         Eu poderia muito bem vir até aqui sempre. Sempre às quartas ou aos domingos. Se eu tivesse tempo, seria assim. Sempre as mesmas calças, as coxinhas do outro dia, o café amargo à tardinha e a mesma costureira míope. Ficaria calado, esperando a poeira baixar, espremendo os olhos ao sabor do mais bestial conhaque. Eu juro que esperaria. Mas se eu deitar no chão do apartamento por um dia, eu terei sérias complicações! Se eu não souber como agir, a ciência explicaria, os números me poriam nas expectativas e possibilidades, eu seria a polêmica da vez, a epidemia dos próximos dias. Eu estaria estampado nos jornais e livros acadêmicos. Submeter-me-iam ao crivo analítico dos estudiosos descabelados e a cuspideira iminente dos debates. Porém, no fim eu me levantaria e diria: Não foi absolutamente nada! Voltem à produção. Em poucas edições de Jornal Nacional tudo terminaria; Sônia Abrão nem comentaria a minha infâmia, o covarde do Datena voltaria aos seus crimes hediondos e lucrativos, e eu já estaria fora de cartaz, minguando diuturnamente nas redes sociais.

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