ESTRELAS ELECTRICAS.

De repente foram-se as luzes, a eletricidade, os sons artificiosos. Ficaram somente as vozes, o barulho dos carros. Os rádios de pilha chiando, ainda era dia, não houve grito, apenas o desalento geral, agora aguardar que a luz elétrica volte. Mas ela custaria a voltar, os sorvetes derreteriam, o programa de televisão terminaria, findar-se-ia qualquer compromisso com a eletricidade. A alternativa era esperar. E só assim apreciar o silêncio das paragens no horizonte, sentir o prazer de uma conversa face a face, economizar a bateria do celular para emergências, ir jogar baralho, dominó, cartas, um jogo de futebol entre amigos até que se escureça. Curtir um passeio de moto, o vento da rapidez batendo no rosto, lágrimas e saliva fluindo pela cara, os braços soltos para o alto atrasando a brisa que passa ligeira. As pessoas nas calçadas, em seus bandos, reunidas conversando, altas risadas, já saindo em busca de velas e fósforos. O jogo na quadra transcorria alegre, meninos entrevados pelo ócio ou pela falta de utilidade, mas risonhos quanto à nostálgica partida. Quando cai a noite. A lua, em forma de sorriso, parecia tornar cômica a situação do escuro que se fazia cada vez mais presente. Os garotos crescentemente mais cegos pelo ocaso que se aproximava quase noite, logo noite. Suados, retornam às suas casas, que há essa hora, iluminavam-se com velas, candeeiros, lampiões ou lanternas. Acendem-se as luzes dos celulares para dar passagem. As casas ventiladas pela corrente de ar natural, as velas em locais estratégicos ou nas mãos dos sujeitos. As ceias, os banhos, as terapias, todas alumiadas romanticamente. Quando me debruço na janela com a intenção de fechá-la, o céu repleto de estrelas, em dicotomia com a lua. Estrelas nunca vistas dantes, como surpresa ou novidade, estrelas que sempre estiveram a enfeitar o céu com suas belezas singulares e distantes, gigantes. Estrelas que viram as luzes da Terra se apagarem e se acenderem, que sumiram com a luz do sol e retornaram à noite. Que as nuvens apagaram por alguma hora e que tornaram a vangloriar o céu de tamanha obra de arte. Estrelas, no seu mais resoluto silêncio, no fogo que nasce da alquimia, que por motivo algum pára de queimar, nessa imensidão de milhões e bilhões, que se resigna em pleno o universo diante dos nossos olhos humanos.    

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