as baratas.


Na minha casa têm baratas e formigas. Gosto mais das baratas. Têm personalidade de serem intocáveis e oniscientes. São despretensiosas demais. Vasculham as brechas e frestas da casa como quem vive por viver, só comendo quando dá fome. Não entendo seus pretextos e sonhos. Talvez esteja aí sua magnitude. São seres que sobrevivem no ritmo da natureza, sem intervenções políticas ou concepções de moda. Não absorvem sentimentos, nem rancores, apenas os restos da cozinha. Devo ser mais um a admirá-las, sou um adepto afinal. Por terem preocupações tão pífias, por não terem opinião, nem serem cobradas de tê-las, por integrarem uma cadeia tão cruel, — cuja criação dita perfeita sobrepondo o homem— e não acharem ruim. São pisoteadas por quaisquer motivos, pela mesquinharia ou por dividirem uma sala de estar com o homem. Apesar desta e outras cargas mais, são criaturas sóbrias e andam em linha reta, às vezes voando, sobre um mísero mundo de amargas percepções.    

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